Obesogénicos
Sabe que a água que bebe, os cosmeticos que aplica , a frigideira que usa podem estar a desregular o seu peso? Os ocultos sabotadores do peso: os obesogénicos. A crença de que o ganho de peso advém de um regime alimentar de excessos e de uma vida sedentária foi abalada pela descoberta, que os cientista têm vindo a provar, de que há um novo grupo de "sabotadores do peso", constituído por químicos a que estamos expostos diariamente. Este grupo é denominado de "obesogénicos" porque contribuem significativamente para a epidemia da obesidade. Pertencem ao grupo dos "desreguladores hormonais" pois interferem nos componentes do sistema endócrino que regulam o nosso peso ( e não só!). Trata-se de um grupo de substâncias químicas naturais e conhecidas pelo homem que inundam o nosso meio ambiente: aumentam o número de células gordas que temos, diminuem as calorias que queimamos e interferem nos mecanismos do nosso corpo que controlam a sensação de fome. Como é que eles actuam? Imitando a acção das nossas hormonas que são naturalmente produzidas no nosso corpo e impedindo estas de actuarem correctamente, os desreguladores hormonais podem: -provocar um aumento do armazenamento de gordura pelo nosso corpo e "re-programar" células para se tornarem em células gordas; -incrementar a resistência à insulina, o que leva a que o pâncreas tenha que produzir ainda mais insulina e, entre muitas outras ações, esta ajuda a transformar "energia" em gordura por todo o corpo -evitar que a hormona que nos reduz o apetite (leptina) seja libertada pela nossas células gordas para "dizer" ao nosso corpo que estamos "cheios"
Onde podemos encontrar esses químicos que nos põem obesos? Em todo o lado! Especialmente porque o "HFCS" ( High Frutose Corn Syrup- xarope de milho com alta concentração de frutose) que se encontra em todo o tipo de comidas (por ser a forma mais barata de adoçar), desde os refrigerantes, aos iogurtes, aos produtos de confeitaria, é um obesogénicos. Este produto torna o nosso fígado resistente à insulina e bloqueia a leptina para aumentar o nosso apetite, criando um ciclo que nos vicia neste tipo de alimentos que mais facilmente são transformados em gordura. Outros locais onde podemos encontrar obesogénicos: -Na água que bebemos! Recipientes e garrafas de plástico contêm na sua constituição o BPA (BisPhenol-A) que é um estrogénio sintético. Foi banido dos biberões de plástico mas continua presente em muitos outros plásticos, especialmente em garrafas de bebidas e no revestimento interior de vários recipientes concebidos para conterem alimentos. Há fortes evidências científicas que demonstram que o BPA aumenta a resistência a insulina, com todos os efeitos nefastos que daí advêm. -Na água da torneira: Os pesticidas infiltram-se no solo e vão encontrar o caminho até à água da torneira. O principal obesogenico na água da torneira é a atrazina. Banida da Europa (esperemos que sim!), mas encontrada em todos os EUA, a atrazina diminui o metabolismo das hormonas da tiroide (na verdade, cada vez vemos mais pacientes com desequilíbrios das hormonas tiroideias, e grande parte deles em fases de desregulação que precedem imediatamente a patologia tiroideia propriamente dita). Outro obesogénico existente na água é a tributylin, um fungicida (usado, por exemplo, para pintar os cascos dos barcos), que estimula a produção de células gordas. Nos cosmeticos e produtos de higiene que escolhemos para tratar da nossa pele: contêm substancias quimicas como, por exemplo, os parabenos, que também pertencem ao grupo dos desreguladores hormonais. -Frigideiras antiaderentes revestidas com Teflon, embalagens de pizza, de pipocas... O PerFluoroOctanoic Acid (PFOA) é a substância existente nestes revestimentos que foi relacionada, em várias investigações, com implicações no nosso metabolismo que levam progressivamente à obesidade. É sabido que também afecta as glândulas tiroideias, as quais são importantíssimas no controle do nosso peso e composição corporal. comprar as carnes directamente no balcão onde as podemos mandar cortar e embalar em papel vegetal (ou plástico especial para alimentos), em vez de comprar as pré-embaladas com pelicula aderente industrial. -comprar os cosmeticos das linhas orgânicas, de preferencia, com uma percentagem perto dos 90% de materia prima organica. -evitar os ambientadores perfumados pois a maioria são sintéticos, com desreguladores hormonais. Optar pelos elementos naturais secos (lavanda, misturas de plantas naturalmente lerfumadas,...) ou essências naturais. -Película aderente industrial, ambientadores perfumados, cortinas de chuveiro, revestimento de chão de vinil: os ftalatos, químicos encontrados nestes produtos do nosso dia a dia, podem baixar o nosso metabolismo basal e os níveis de testosterona, levando ao aumento de peso e diminuição da massa muscular (entre outros efeitos possíveis relacionados bom a baixa de testosterona). Estas são apenas algumas implicações da desregulação hormonal criada por estas substâncias que mimetizam os estrogénios, interferem com a insulina, com as hormonas da tiroide, com a testosterona, mas está a decorrer mais investigação para se compreender melhor outras consequências previsíveis em campos como o da infertilidade (que sabemos estará aumentar assustadoramente) -Outra fonte de hormonas que desregulam os nossos eixos hormonais são as carnes e lacticínios de produção não orgânica/biológica, por estarem repletos de hormonas (e antibióticos). A questão dos peixes de aquacultura também está ser investigada Que fazer perante este cenário? Para além de tentarmos influenciar a política ambiental da nossa comunidade, do nosso país, da Europa,..., do planeta, podemos começar por tomar pequenas/grandes medidas no nosso dia-a-dia, tais como: - comprar um filtro de carvão activado que removerá imensos dos poluentes químicos que a água da torneira veicula. Há modelos simples e baratos, como simples jarros de água com o filtro incorporado, até complexos sistemas de filtragem da água de toda a habitação. - armazenar a água que filtramos sempre em recipientes de vidro ou garrafas de alumínio com revestimentos livres BPA e de outras substâncias cujos efeitos na nossa saúde sejam dúbios. - pela mesma razão, evitemos beber água de garrafas cujo plástico seja o numero 3 ou 7 ( ver triângulo gravado habitualmente no fundo da garrafa e que contém esse numero); os plásticos mais seguros parecem ser o 2 e o 5, embora o 1, 4 e 6 não contenham BPA. A água comercializada em garrafas de vidro acaba por ser a mais segura, deste ponto de vista. -evitar sujeitar as garrafas de água de plástico ao aquecimento, pois este potencializa a libertação do BPA para a água. -não colocar alimentos dentro do microondas (para aqueles que ainda têm que o usar) em recipientes de plástico nem armazenar comida quente em recipientes de plástico. -comprar carnes que sejam limpas de hormonas e antibióticos (infelizmente, só as biológicas é que poderão ter estas características) -comer menos comida embalada; optar pelos congelados e comida fresca. -se se usarem conservas, optar pelas que são embaladas em recipientes de vidro ou por latas cujo revestimento interior seja não tóxico. -por de lado as frigideiras de Teflon, se possível. Se as mantivermos, não as riscar e deitar fora as que já estão riscadas: o Teflon vai-se misturar com os alimentos. Há revestimentos antiaderentes não tóxicos, ... ,ou optar pela clássica frigideira de ferro. -comprar as carnes directamente no balcão onde as podemos mandar cortar e embalar em papel vegetal (ou plástico especial para alimentos), em vez de comprar as pré-embaladas com película aderente industrial. -evitar os ambientadores perfumados pois a maioria são sintéticos, com desreguladores hormonais. Optar pelos elementos naturais secos (lavanda, misturas de plantas naturalmente perfumadas,...) ou essências naturais. Vamo-nos mantendo atentos aos tóxicos ambientais, pois estamos "mergulhados" num oceano de compostos químicos de que não temos noção nem da verdadeira dimensão, nem da abrangência e gravidade de efeitos no nosso complexo metabolismo.
Paula Vasconcelos, Dra. Médica com mestrado e pós-graduação em "Anti-aging Metabólico e Medicina Funcional e Regenerativa" e Especialista em Medicina Geral e Familiar NotíciasJunho 15, 2014
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